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O presente texto foi adaptado do artigo “Income Over Feed Costs in the Dairy Enterprise” publicado pela Virginia State University.
Monitorar a performance financeira e a eficiência de produção é uma rotina básica e necessária para a sustentabilidade da atividade leiteira o tempo todo, tornando-se crítico em momentos de preços baixos de leite, altos custos com alimentação ou em ambos os casos. A Receita Menos Custo Alimentar (RMCA) é um indicador de desempenho financeiro que os gestores devem utilizar rotineiramente como suporte nas tomadas de decisões do negócio. O objetivo deste artigo é discutir como calcular este indicador, como entendê-lo e dar alguns exemplos de sua utilização.
A RMCA é definida pela parte da receita da venda de leite que sobra após pagar os custos com os alimentos fornecidos aos animais para a produção de leite sejam eles adquiridos ou plantados na fazenda.
Para calcular a RMCA três parâmetros devem ser conhecidos: produção de leite (litros/vaca/dia), preço do leite (reais/litro) e custos com alimentação (reais/vaca/dia) que resultará em um valor em reais/vaca/dia. Na Tabela 1 temos um exemplo de cálculo de RMCA.
Ao utilizar o exemplo da tabela 1 tem-se que 37,8% da receita foram gastos com alimentação. O restante da receita do leite deve ser destinado ao pagamento das demais despesas da fazenda como mão de obra, energia, combustíveis, medicamentos, minerais, entre outras.
Existem alguns fatores não explícitos que podem influenciar a interpretação da RMCA. Um deles é a diferença entre o leite produzido e o leite comercializado. Por exemplo, em uma fazenda de 100 vacas em que a produção de 10 vacas doentes é descartada, essas vacas doentes não contribuem com o leite vendido, porém, são alimentadas da mesma forma que as outras 90 vacas saudáveis. Ao considerar que todas vacas (doentes e saudáveis) são alimentadas conforme descrito na tabela 1, o cálculo da RMCA individualmente está correto, porém ele será diferente do resultado obtido considerando o rebanho, pois ao considerar o rebanho tenho uma receita do leite de 90 vacas que irá pagar a alimentação de 100 vacas. Considerar o valor obtido no rebanho é muito importante para a gestão da atividade leiteira e ela deve ser sempre comparada com os valores individuais para saber se está ocorrendo falhas na produção.
Conforme pode ser visto na Tabela 2, não considerar as vacas doentes do rebanho pode resultar em uma superestimação do valor da RMCA. Nesse exemplo, há uma diferença de 7,26% a mais na RMCA do rebanho sem considerar as vacas doentes. Além de não acrescentar receita para o negócio a vaca doente precisa ser alimentada até a sua recuperação. Portanto, alimentar vacas doentes é uma despesa oculta que muitos gestores ignoram. Porém, como visto na Tabela 2, calcular a RMCA do rebanho é a melhor forma do gestor interpretar seus resultados. Em resumo, calcular a RMCA do rebanho dará uma maior precisão da performance financeira do negócio em relação ao cálculo feito considerando o indivíduo.
A composição do rebanho também precisa ser considerada quando a RMCA é calculada. Em todos os rebanhos existe um grupo de vacas secas que também precisam ser alimentadas apesar de não gerarem receitas, sendo assim, as vacas secas apresentam uma RMCA negativa (Tabela 3).
Ter uma menor ou maior proporção de vacas secas no rebanho influencia significativamente a RMCA do rebanho total. Na tabela 4 existe um Rebanho A com 86 vacas em lactação e 14 vacas secas e um Rebanho B com 80 vacas em lactação e 20 vacas secas.
Usando os valores da Tabela 1 e Tabela 3 pode-se observar que há uma diferença de 9,5% na RMCA do rebanho total entre os dois rebanhos, influenciados pela relação entre vacas secas e vacas em lactação. Portanto, os gestores do negócio devem se atentar sempre com a relação entre RMCA das vacas em Lactação e a RMCA do rebanho total, pois pode ser uma ferramenta de identificação de falhas no sistema de produção.
Calcular a RMCA das vacas secas também pode auxiliar os gestores na sua decisão de secar os animais de baixa produção mais cedo. Como pode ser visto na Tabela 5, em muitos casos vale a pena manter a vaca em lactação, mesmo com baixa produção, pois o prejuízo dela será menor que manter ela seca sem gerar receita.
Como pôde ser visto nos exemplos acima, ter uma alta relação de vacas secas não vale a pena, porém uma proporção entre 14 e 16% de vacas secas é necessário, pois são os animais que irão parir novamente. Animais em início de lactação apresentam maior produção de leite e apresentam os melhores valores da RMCA. Não ter esses animais altamente eficientes no rebanho pode ser prejudicial à sustentabilidade econômica da atividade.
Ao calcular a RMCA total do rebanho deve-se levar em consideração que em alguns rebanhos ocorrem concentrações de partos em algumas épocas do ano e isso pode influenciar diretamente no resultado da RMCA, pois em certos momentos podemos ter uma maior proporção de vacas secas ou então uma maior proporção de vacas em início de lactação o que pode alterar o resultado alcançado.
Conforme descrito nesse artigo, a RMCA sofre influência de vários fatores como o preço do leite (que é influenciado pelo volume, qualidade, logística e mercado), custo com alimentação (volumosos e concentrados), dinâmica e distribuição do rebanho. Portanto, existe a possibilidade de comparar a RMCA entre fazendas, porém o objetivo principal deve ser avaliar os diferentes cenários dentro da mesma fazenda, visto o grande número fatores que pode influenciar no resultado da RMCA e dificultar a comparação entre fazendas.
Ferreira,G. Income Over Feed Costs in the Dairy Enterprise. Virginia Cooperative Extension. Disponível em: http://digitalpubs.ext.vt.edu/vcedigitalpubs/4929857323338462/MobilePagedReplica.action?pm=2&folio=1#pg1